No fundo no fundo, todo mundo pede um pouco de atenção. Contato humano. Acabei de bater o carro. Sim, é uma merda. Mas é apenas um objeto, já que não houve danos físicos. Dá raiva, muita raiva. Seis e meia da tarde, voltando para casa, e PUM! Bati. Eu fui a culpada. Não, não havia ingerido nada alcoólico. Bati de boba. De besta. De achar que todos vão fazer exatamente o mesmo caminho que eu. Aquele caminho, que você está acostumada a fazer e acha que todos vão ver as mesmas coisas que você. Mas, tudo bem, vivendo e aprendendo. O que dá mais raiva, é que seu carro, tem pouco mais que uma semana. 0km. Bateu, arranhou, detonou e por consequência também o carro da frente. Era um cara, muito simpático. Pelo menos isso. Hoje em dia, ninguém sai do carro já xingando, todos querem resolver a situação da maneira mais tranquila possível. Bom, eu também queria se não fosse culpada, estava a ponto de me esbofetear, lançar minha cabeça contra o poste, xingar até minha última geração. Mas não podia, precisava me manter tranquila, já que o dano foi apenas material. Poxa!!!!! Comecei agora colocar minhas coisas em ordem e PUM. Vou ter que pagar o meu carro e o carro dele. Não, não vou dizer TUDO ISSO É MUITO INJUSTOOOOOO! Ficaria algo muito normal, sem originalidade nenhuma, muito diferente do ocorrido: carro 0km, batido na primeira semana de uso, um gasto enorme com documentos, placa, e bla, bla bla bla bla bla. Bom, eu tremia, falava palavrão, chorava e sabe lá mais o que. Depois de tudo anotado, telefones trocados, vou para casa. O “moço”, muito simpático, me perguta se havia alguém para eu ligar.... NÃO, NÃO TENHO NINGUÉM PARA LIGAR. NÃO TENHO NINGUÉM, NINGUÉM!!!! Não é novidade nenhuma que caio em lágrimas fácil, fácil, muito fácil. Foi isso que eu fiz. Cheguei em casa, liguei para amiga para dizer que não havia acontecido nada, abri uma latinha de cerveja e comecei a chorar. Não sabia nem porque , já que era apenas um carro, 0KM, mas apenas um carro. Estou dizendo a verdade, acredito nisso mesmo, acho que até por isso fiquei com mais raiva, por que era apenas um carro e eu estava alí, me debulhando em lágrimas. Bom, não dá para bater o carro, chegar em casa sozinha, abrir uma latinha e não ligar a TV. Nessa hora, o contato humano é importante. Quando você não tem, a voz substitui, mesmo que você fale e não escute a resposta, ou mesmo que eles falem e para você não faça o mínimo sentido. O jeito então é ouvir, mesmo que não seja exatamente o que você queria realmente escutar. Era hora da propaganda eleitoral, desculpem minha falta de patriotismo, mas, hoje não, eu não estava afim... Mudei de canal e parei num dos únicos que não havia o programa. Um homem na cadeira de rodas. Comecei a chorar tudo de novo, por me sentir tão ruim por estar chorando por que bati o carro 0KM. Senti-me muito mau, uma egoista, materialista, oportunista. Oportunista por depositar todos os meus problemas em cima do carro. Acho que já estou até com dó dele. Bom, acabando o programa do cadeirante, mudei de canal e o que se passava era a reportagem do grande Show SWU, e hoje, o mais agitado que dos outros dias. Uma das bandas: Sepultura. Bom, acho que todo mundo conhece e conhece também o público. Eles tem uma maneira muito peculiar de homenagiar, prestigiar, festejar, mostrar que gostam da banda. Nada pessoal, cada um tem seu jeito, seu gosto, e isso realmente não se discute. Mas o que mais me chamou a atenção, nessa hora, foi a forma como eles comemoram. Eles se batem o tempo todo, como se estivessem numa briga. O repórter fala exatamente isso, não se sabe se estão se batendo ou festejando. Pelos rostos, percebemos que estão todos felizes, mas de longe "joga água que é briga". Daí, comecei a pensar. Os “roqueiros”, aqueles pelo menos, usavam daquela “comemoração” para estarem mais juntos. Sim, “roqueiros não podem se pegar”, ter contato físico, assim tão perto. Nada melhor que podermos nos pegar, sem falar que estamos tenho algum contato; ter esse contato, fingir que é uma briga, mas todos sabendo que não é briga (portanto ninguém vai nos apartar) e ficarmos em contato, em contato físico, em atenção do outro. No fundo, no fundo, o que a gente quer é atenção, é contato físico, é calor humano, amor... Bom, foi isso que eu senti, queria alguém, para ficar me dizendo o tempo todo que era apenas um carro, apenas material e que todos estavam inteiros e que nada de grave tinha acontecido. Sim, acho que eu queria estar no show do Sepultura!!!